sexta-feira, novembro 19, 2004
O sóito
Na casa da minha infância havia um sóito. O sóito era o lugar dos mistérios, o único lugar da casa onde ainda existiam coisas desconhecidas.
Incialmente, havia no nosso quarto de dormir uma escada de madeira que dava para o sóito. Mas depois a escada foi retirada e a única alternativa para chegar ao sóito era retirar algumas telhas da casa, por cima do sobrado da cozinha.
As crianças acabavam por ser as únicas que cabiam nesse buraco entre a armação de madeira do telhado. Foi assim que entrei algumas vezes no sóito. Umas a mando da minha mãe, para ir buscar algum objecto necessário, outras, bem mais interessantes, escondida dela, para explorar as caixas, os sacos, as velharias que lá estavam guardadas.
Lembro-me de um dia em que fui picada por uma vespa. Saí do sóito aos gritos e a minha mãe colocou alho e uma moeda em cima da mordidela, para passar. Lembro-me de guardarmos peros e semilhas no sóito. Lembro-me de guardarmos lá as pinhas que usávamos para enfeitar a casa no Natal.
O sóito era o lugar mágico da minha infância. Um belo dia, as minha primas chegaram de Moçambique. Ouviram-nos dizer a palavra sóito e começaram a gozar de nós. Em vez de sóito, elas diziam sótão, uma palavra que eu nunca tinha ouvido na vida. Pediam-nos para repetir a palavra sóito só para se divertirem. Quando nós a dizíamos, começavam a rir à gargalhada.
Esse lugar dos mistérios ainda existe e ainda gosto de lá ir. E quando lá vou, digo sóito, como antigamente. O sóito tem um cheiro antigo, tem roupas penduradas num arame, caixotes com livros, bocados de brinquedos. Definitivamente, é o nosso sóito e não o sótão das minhas primas.
Incialmente, havia no nosso quarto de dormir uma escada de madeira que dava para o sóito. Mas depois a escada foi retirada e a única alternativa para chegar ao sóito era retirar algumas telhas da casa, por cima do sobrado da cozinha.
As crianças acabavam por ser as únicas que cabiam nesse buraco entre a armação de madeira do telhado. Foi assim que entrei algumas vezes no sóito. Umas a mando da minha mãe, para ir buscar algum objecto necessário, outras, bem mais interessantes, escondida dela, para explorar as caixas, os sacos, as velharias que lá estavam guardadas.
Lembro-me de um dia em que fui picada por uma vespa. Saí do sóito aos gritos e a minha mãe colocou alho e uma moeda em cima da mordidela, para passar. Lembro-me de guardarmos peros e semilhas no sóito. Lembro-me de guardarmos lá as pinhas que usávamos para enfeitar a casa no Natal.
O sóito era o lugar mágico da minha infância. Um belo dia, as minha primas chegaram de Moçambique. Ouviram-nos dizer a palavra sóito e começaram a gozar de nós. Em vez de sóito, elas diziam sótão, uma palavra que eu nunca tinha ouvido na vida. Pediam-nos para repetir a palavra sóito só para se divertirem. Quando nós a dizíamos, começavam a rir à gargalhada.
Esse lugar dos mistérios ainda existe e ainda gosto de lá ir. E quando lá vou, digo sóito, como antigamente. O sóito tem um cheiro antigo, tem roupas penduradas num arame, caixotes com livros, bocados de brinquedos. Definitivamente, é o nosso sóito e não o sótão das minhas primas.