quarta-feira, novembro 24, 2004
O "Espanhol"
Quando se ouvia, ao longe, o apito do "Espanhol", instalava-se em casa um grande alvoroço. A mãe começava a abrir gavetas e gavetinhas, e a desdobrar bordados, donde caíam negalhos de linhas e dedais, à procura de todas as tesouras, as grandes e as pequenas, de bicos, para amolar.
Depois da busca às tesouras, era preciso ir ver onde estavam os chapéus-de-sol com baleias estragadas e que tinham ficado guardados algures, à espera da próxima passagem do "Espanhol".
Ele chegava, acompanhado do som mágico da sua gaita, e instalava-se no canto do terreiro, junto ao quarto-de-fora. A minha avó e a minha tia, atraídas pela música, apareciam no cimo das escadas com mais coisas para consertar. Lembro-me de ficar ali, hipnotizada pelo girar da roda do "Espanhol", atenta ao espectáculo das faíscas que de lá saíam, enquanto ele amolava as tesouras todas e soldava todas as baleias partidas.
Não sei se "Espanhol" era o nome que antigamente se dava à profissão ou se aquele homem é que era conhecido pela alcunha de "Espanhol". A verdade é que também chamávamos espanhóis a outros amoladores que, embora raramente, passavam no sítio, mas é possível que fosse por associação. Também é verdade que o filho desse "Espanhol" herdou o nome e ainda hoje lhe chamam "O Espanhol", apesar de nunca ter andado por aí de roda às costas, a amolar tesouras e a soldar baleias de chapéus-de-sol, tornando mais especiais alguns dos longos dias da infância.
Depois da busca às tesouras, era preciso ir ver onde estavam os chapéus-de-sol com baleias estragadas e que tinham ficado guardados algures, à espera da próxima passagem do "Espanhol".
Ele chegava, acompanhado do som mágico da sua gaita, e instalava-se no canto do terreiro, junto ao quarto-de-fora. A minha avó e a minha tia, atraídas pela música, apareciam no cimo das escadas com mais coisas para consertar. Lembro-me de ficar ali, hipnotizada pelo girar da roda do "Espanhol", atenta ao espectáculo das faíscas que de lá saíam, enquanto ele amolava as tesouras todas e soldava todas as baleias partidas.
Não sei se "Espanhol" era o nome que antigamente se dava à profissão ou se aquele homem é que era conhecido pela alcunha de "Espanhol". A verdade é que também chamávamos espanhóis a outros amoladores que, embora raramente, passavam no sítio, mas é possível que fosse por associação. Também é verdade que o filho desse "Espanhol" herdou o nome e ainda hoje lhe chamam "O Espanhol", apesar de nunca ter andado por aí de roda às costas, a amolar tesouras e a soldar baleias de chapéus-de-sol, tornando mais especiais alguns dos longos dias da infância.
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Dizía-se que os "afiladores" vinham todos de Ourense, a provincia interior da Galiza. E desde alí espalharamse pelo mundo. "Quando os americanos chegarom à lúa ja havía alí um "afilador" ourensam", brincávase. Primeiro coa roda, logo coa bicicleta e depois coa motocicleta era um bonito espectáculo para a rapazada quando aparecía um pelo bairro da minha cidade, Vigo, asubiamdo co chifre e dando as vozes de "Afilador y paragüero!!!". Pouco a pouco forom desaparecendo até ser case uma espécie em estinção. Desculpem o meu "portugués-galego".
o amola tesoura no Funchal e meu primo. e de familia dos espanhois e tanto o seu pai como o seu avo eram amola tesouras.
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