quarta-feira, outubro 13, 2004

A Chagodias

A venda da "Chagodias" era um ponto de referência. Localizada a meio caminho entre a nossa casa e a Camacha, e apenas uma ladeira antes da paragem do horário, praticamente em todas as conversas que envolviam percursos se falava nela. "Encontrei a senhora Maria na Chagodias." Talvez: "Começou a chover quando se vinha um pedacinho acima da Chagodias." "Ainda íamos abaixo da Chagodias, à hora que o horário sai da Camacha." Chagodias para cá, Chagodias para lá. Muito raramente entrávamos para comprar alguma falta, pois a venda onde fazíamos as compras da semana era outra. Lembro-me de pensar, intrigada, sobre qual seria o significado de "Chagodias", uma palavra que não se parecia com nenhuma outra.
Depois de passar a infância e a adolescência a dizer e a ouvir Chagodias, eis que o mistério foi desvendado. Chagodias é, afinal: Achada Diogo Dias. É o local e não apenas a mercearia, a que também chamavam do "Vermelho".
Achada Diogo Dias. Chagodias: três palavras resumidas numa, à boa maneira da economia popular. Hoje até existe uma placa pintada com o nome da rua: Rua Achada Diogo Dias. Fiquei contente com a solução deste mistério. Mas também fiquei triste. De cada vez que vejo resolver-se um mistério, por mais pequeno que seja, sinto-me assim. Com lágrimas nos olhos, deixo que a vida me afaste mais alguns passos da infância.

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