segunda-feira, outubro 11, 2004

Burra do cisco

Há anos que não ouço a palavra "cisco". Na minha infância, o cisco era o lixo. Qualquer lixo era cisco. "Já varreste o cisco?" "Esta casa está cheia de cisco!" "Vai deitar isto num instante à poça do cisco."
Um pouco abaixo do quintal, à frente de um poio e antes do corador, tínhamos a "poça do cisco." Atirávamos tudo para lá e de vez em quando a minha mãe transformava o cisco numa fogueira. Só devo ter aprendido a palavra "lixo" nalgum texto do livro da escola, ou mais provavelmente nalgum programa de televisão, quando finalmente tivemos também direito ao aparelho mágico que trazia pessoas dentro.
"Sua burra do cisco!" Quando me queriam mostrar que tinha feito alguma asneira, chamavam-me "burra do cisco." Não havia nada pior do que ser uma "burra do cisco". Era a forma de os adultos mostrarem que estavam zangados com os meus comportamentos de criança.
Hoje ninguém me chama "burra do cisco" mas às vezes sinto-me uma. Com várias escolhas pela frente, ou fico perdida na indecisão, ou decido-me pelas erradas.
Era tudo tão fácil quando havia alguém a orientar-me no caminho certo, ainda que fosse dizendo apenas: "Não faças isso, sua burra do cisco!".





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