sexta-feira, setembro 10, 2004

Saias, saiotes e saias-de-vestido

A minha filha não sabe o que é uma "saia-de-vestido", nem um "saiote". Só sabe o que é uma saia, uma mini-saia e uma saia-comprida. Já não existem saias como as que eu usei com a idade dela.
Quando dizíamos simplesmente "saia" referíamo-nos a uma combinação, uma espécie de vestido simplificado, de alcinhas e franzido, branco e com uma rendinha na ponta, de vestir por dentro do vestido-de-andar-em-casa, do vestido-da-missa, ou de uma saia-de-vestido, com blusa a condizer. Àquilo que agora são as saias normais, chamávamos saias-de-vestido. Era a forma de as diferenciarmos das saias que eram afinal combinações. Combinação era uma palavra fina; nós usávamos as palavras do povo.
Na adolescência, as saias foram substituídas por saiotes, que eram apenas da cintura para baixo. Nenhuma menina, jovem ou mulher se atrevia a sair de casa sem uma saia ou um saiote, para que não luzissem as pernas ou o tronco nas possíveis transparências da roupa. Muitas vezes usava-se uma saia inteira (combinação) e um saiote por cima.
Hoje, para além de diversos pares de calças, tenho apenas algumas saias vulgares e alguns vestidos. Não tenho saias-de-vestidos, não tenho saias-de-dentro (lembro-me de ter ouvido chamarem assim às combinações), não tenho saiotes, não tenho vestidos-da-missa, nem vestidos-de-andar-em-casa. Tanta variedade reduzida a duas ou três saias e a dois ou três vestidos. Olho para estas memórias e sinto-me mais pobre.

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