terça-feira, agosto 31, 2004
Os amores da banheira
Este ano, semeei amores-perfeitos. Há anos que não o fazia e não sei ainda porque voltei a fazê-lo. Talvez na esperança de alguma distracção momentânea das forças cósmicas que ditam a minha falta de sorte com amores.
Semeei amores-perfeitos num vaso grande que tenho na varanda e onde cresce uma cameleira. A cameleira é estreita e alta, havia espaço de sobra à volta dela para as sementes de amores-perfeitos. Semeei e comecei a espreitá-las diariamente, seguindo a sua aventura neste mundo. As primeiras folhas surgiram e eu fiquei contente. Neste momento, apesar de todo o cuidado que lhes tenho dispensado, estão moribundas.
"Já te esqueceste dos amores da banheira?". A voz da minha mãe tem um som divertido e cúmplice. Desta vez, não lhe contei sobre os amores-perfeitos, na esperança de que o segredo lhes aumentasse as possibilidades e os pudesse apresentar já crescidos e fortes. Mas recordo a pergunta, feita noutras alturas e não apenas para referir-se a amores flores. Sobretudo referindo-se a amores humanos.
Eu era adolescente quando decidi semear amores-perfeitos numa banheira velha, já sem uso. Enchi-a com a melhor terra, fiz-lhe os orifícios necessários para escoar a água, lancei as sementes à terra e tive o cuidado de a colocar num sítio propício, abrigado mas com luz, junto à "casa das flores" que tínhamos no quintal.
Tratei os meus amores-perfeitos com todo o carinho possível. Vivia em permanente expectativa e delícia, rodeando de ternura aquela banheira. Chegou a altura de os dispôr e eu assim fiz. Um belo dia, deram flor.
Eram pequenos, mirrados, com as cores que deviam ser vivas todas desbotadas. Tristes e feios eram os meus amores! Amores-mais-que-imperfeitos, isso sim. A minha mãe deu umas boas gargalhadas à custa dos meus "amores da banheira". Isto aconteceu há imensos anos mas continuamos a usar a expressão "amores da banheira" ou "amorzinhos da banheira". Flores transfiguradas em pessoas.
A verdade é que unca procurei amores perfeitos, tão só amores normais como os que existem noutros jardins. Sempre me saíram, apenas, "amores da banheira". "Lembras-te dos amores que semeaste uma vez numa banheira velha?"
Iludida, embrenhada numa secreta esperança, voltei a semear amores. Semeei-os no vaso da cameleira mas nasceram "amores da banheira".
Semeei amores-perfeitos num vaso grande que tenho na varanda e onde cresce uma cameleira. A cameleira é estreita e alta, havia espaço de sobra à volta dela para as sementes de amores-perfeitos. Semeei e comecei a espreitá-las diariamente, seguindo a sua aventura neste mundo. As primeiras folhas surgiram e eu fiquei contente. Neste momento, apesar de todo o cuidado que lhes tenho dispensado, estão moribundas.
"Já te esqueceste dos amores da banheira?". A voz da minha mãe tem um som divertido e cúmplice. Desta vez, não lhe contei sobre os amores-perfeitos, na esperança de que o segredo lhes aumentasse as possibilidades e os pudesse apresentar já crescidos e fortes. Mas recordo a pergunta, feita noutras alturas e não apenas para referir-se a amores flores. Sobretudo referindo-se a amores humanos.
Eu era adolescente quando decidi semear amores-perfeitos numa banheira velha, já sem uso. Enchi-a com a melhor terra, fiz-lhe os orifícios necessários para escoar a água, lancei as sementes à terra e tive o cuidado de a colocar num sítio propício, abrigado mas com luz, junto à "casa das flores" que tínhamos no quintal.
Tratei os meus amores-perfeitos com todo o carinho possível. Vivia em permanente expectativa e delícia, rodeando de ternura aquela banheira. Chegou a altura de os dispôr e eu assim fiz. Um belo dia, deram flor.
Eram pequenos, mirrados, com as cores que deviam ser vivas todas desbotadas. Tristes e feios eram os meus amores! Amores-mais-que-imperfeitos, isso sim. A minha mãe deu umas boas gargalhadas à custa dos meus "amores da banheira". Isto aconteceu há imensos anos mas continuamos a usar a expressão "amores da banheira" ou "amorzinhos da banheira". Flores transfiguradas em pessoas.
A verdade é que unca procurei amores perfeitos, tão só amores normais como os que existem noutros jardins. Sempre me saíram, apenas, "amores da banheira". "Lembras-te dos amores que semeaste uma vez numa banheira velha?"
Iludida, embrenhada numa secreta esperança, voltei a semear amores. Semeei-os no vaso da cameleira mas nasceram "amores da banheira".