quarta-feira, novembro 30, 2011
enxógalhar
Falta pouco para a Festa e pedem-me a receita do licor de maracujá. Confirmo as medidas com a minha mãe. Primeiro deita-se a polpa de cinquenta maracujás num litro de álcool. Quinze dias depois, faz-se uma calda com um litro e meio de água e dois quilos de açúcar e leva-se ao lume durante alguns minutos. Deixa-se arrefecer e junta-se o álcool onde os maracujás estiveram em infusão. Há quem opte por coar e há quem prefira deixar algumas sementes de maracujá no licor. Só falta um pormenor importante: "- Durante o tempo em que a polpa de maracujá fica no álcool, é preciso enxógalhar a garrafa todos os dias."
Enxógalhar é um pormenor que pode fazer toda a diferença. A palavra enxógalhar é de tal forma habitual que só por acaso me ocorreu tratar-se de uma palavra que não existe no dicionário. O dicionário diz que a palavra correcta é agitar, eu digo enxógalhar. Digo enxógalhar porque todos me perceberão melhor e também porque esta é uma daquelas palavras que têm o sabor, o cheiro e as cores da infância. A palavra enxógalhar pertence às pessoas simples que talvez saibam mais do que as pessoas que sabem coisas muito complicadas.
Enxógalhar é um pormenor que pode fazer toda a diferença. A palavra enxógalhar é de tal forma habitual que só por acaso me ocorreu tratar-se de uma palavra que não existe no dicionário. O dicionário diz que a palavra correcta é agitar, eu digo enxógalhar. Digo enxógalhar porque todos me perceberão melhor e também porque esta é uma daquelas palavras que têm o sabor, o cheiro e as cores da infância. A palavra enxógalhar pertence às pessoas simples que talvez saibam mais do que as pessoas que sabem coisas muito complicadas.
terça-feira, novembro 22, 2011
ficar com as calças na mão
- Fiquei com as calças na mão!
A primeira vez em que ouvi esta expressão era ainda criança.Talvez tivesse sido o meu pai, talvez o meu tio, talvez o meu avô. Um deles usou esta expressão numa conversa de pessoas grandes e suscitou a minha curiosidade
- Fiquei com as calças na mão!
Na altura em que ouvi esta expressão pela primeira vez, eu não sabia ainda nada sobre metáforas. As palavras tinham o sentido literal, apenas esse e mais nenhum. Foi por isso que eu imaginei o quadro, muito provável na época, de alguém que ia fazer as suas necessidades no meio de um pinhal, ou atrás das canas de uma fazenda, ou num poio mais afastado do caminho, e era surpreendido por outra pessoa que por ali andava, antes de ter tempo de voltar a compor-se.
- Fiquei com as calças na mão!
Era mesmo isso que acontecia por vezes. As pessoas trabalhavam no campo, faziam longos percursos a pé, e quando precisavam utilizavam um destes lugares, supostamente mais escondidos. Ora, como eram muitos os que procuravam lugares mais escondidos para o mesmo fim, nada mais normal do que muitos serem literalmente apanhados "com as calças na mão".
- Fiquei com as calças na mão!
Por ser uma possibilidade tão real e possível, e deveras embaraçosa, é que as pessoas a transformaram numa bela metáfora. Uma pessoa fica com as calças na mão quando é apanhada desprevenida, totalmente desprevenida. Quando é apanhada desprevenida e fica sem saber o que fazer, porque já foi apanhada de qualquer maneira.
São poucos os que não estão com as calças na mão!
A primeira vez em que ouvi esta expressão era ainda criança.Talvez tivesse sido o meu pai, talvez o meu tio, talvez o meu avô. Um deles usou esta expressão numa conversa de pessoas grandes e suscitou a minha curiosidade
- Fiquei com as calças na mão!
Na altura em que ouvi esta expressão pela primeira vez, eu não sabia ainda nada sobre metáforas. As palavras tinham o sentido literal, apenas esse e mais nenhum. Foi por isso que eu imaginei o quadro, muito provável na época, de alguém que ia fazer as suas necessidades no meio de um pinhal, ou atrás das canas de uma fazenda, ou num poio mais afastado do caminho, e era surpreendido por outra pessoa que por ali andava, antes de ter tempo de voltar a compor-se.
- Fiquei com as calças na mão!
Era mesmo isso que acontecia por vezes. As pessoas trabalhavam no campo, faziam longos percursos a pé, e quando precisavam utilizavam um destes lugares, supostamente mais escondidos. Ora, como eram muitos os que procuravam lugares mais escondidos para o mesmo fim, nada mais normal do que muitos serem literalmente apanhados "com as calças na mão".
- Fiquei com as calças na mão!
Por ser uma possibilidade tão real e possível, e deveras embaraçosa, é que as pessoas a transformaram numa bela metáfora. Uma pessoa fica com as calças na mão quando é apanhada desprevenida, totalmente desprevenida. Quando é apanhada desprevenida e fica sem saber o que fazer, porque já foi apanhada de qualquer maneira.
São poucos os que não estão com as calças na mão!