sexta-feira, outubro 29, 2010
quando a maré deita....
Já agora. Já que estou aqui. Já que falamos sobre isto. Já agora.
- "Ora essa! Quando a maré deita, é que se aproveita!"
E foi assim que, sem estar à espera, fiquei a conhecer mais um ditado madeirense, ouvido na infância do meu interlocutor, nascido e criado no Porto da Cruz.
Quando a maré deita é que se aproveita: as oportunidades devem ser agarradas no momento em que aparecem. Não antes, não depois, mas no momento em que nos surgem à frente. Antes não é o momento certo e depois já o momento passou.
Parece fácil. Parece.
No entanto, nem sempre o ser humano consegue actuar com esta precisão. Enquanto pensa, indeciso, a oportunidade desaparece e normalmente não volta, pelo menos dos mesmos termos. Pior do que isso, muitas vezes não conseguimos reconhecer a oportunidade deitada pela maré. E se não reconhecemos a oportunidade, como aproveitá-la?
A primeira sabedoria é esta: reconhecer o que está à nossa frente.
- "Ora essa! Quando a maré deita, é que se aproveita!"
E foi assim que, sem estar à espera, fiquei a conhecer mais um ditado madeirense, ouvido na infância do meu interlocutor, nascido e criado no Porto da Cruz.
Quando a maré deita é que se aproveita: as oportunidades devem ser agarradas no momento em que aparecem. Não antes, não depois, mas no momento em que nos surgem à frente. Antes não é o momento certo e depois já o momento passou.
Parece fácil. Parece.
No entanto, nem sempre o ser humano consegue actuar com esta precisão. Enquanto pensa, indeciso, a oportunidade desaparece e normalmente não volta, pelo menos dos mesmos termos. Pior do que isso, muitas vezes não conseguimos reconhecer a oportunidade deitada pela maré. E se não reconhecemos a oportunidade, como aproveitá-la?
A primeira sabedoria é esta: reconhecer o que está à nossa frente.
sábado, outubro 16, 2010
trancas de ferro
-"Porta arrombada, trancas de ferro".
Ouvi no meu sítio esta versão do conhecido ditado "Casa arrombada, trancas à porta" e resolvi registar a particularidade. Não bastam as trancas à porta, é necessário uma tranca de ferro.
E isto não se aplica apenas às portas físicas, aplica-se também a outras portas, as mais importantes, que são as nossas portas emocionais.
Mas é pena! Porque as trancas de ferro são difíceis de destrancar, mesmo por dentro.
Ouvi no meu sítio esta versão do conhecido ditado "Casa arrombada, trancas à porta" e resolvi registar a particularidade. Não bastam as trancas à porta, é necessário uma tranca de ferro.
E isto não se aplica apenas às portas físicas, aplica-se também a outras portas, as mais importantes, que são as nossas portas emocionais.
Mas é pena! Porque as trancas de ferro são difíceis de destrancar, mesmo por dentro.
terça-feira, outubro 12, 2010
destrocar dinheiro na bandejinha da missa
Quando eu era criança e na minha paróquia a Igreja ainda era uma casa com dois quartos grandes no rés-do-chão, um para as mulheres e outro para os homens, havia uma mulher que tinha o estranho hábito de destrocar dinheiro na bandejinha das ofertas.
Durante o ofertório, alguém ia circulando entre os presentes com uma bandejinha de vimes e eu gostava de ouvir o tilintar das moedas por entre o côro das orações, quando alguém as atirava com mais força e de uma altura maior.
Quando a bandejinha chegava ao pé da tal senhora, em vez de atirar uma moeda de baixo valor, ela atirava uma maior, ou então uma nota de vinte escudos, daquelas que tinham a imagem do santo António de Lisboa, e começava a remexer em todo o dinheiro da bandeja retirando troco, de forma a que a sua oferenda fosse exactamente o valor que ela decidira.
Aquela operação demorava uma eternidade e ninguém se conseguia aperceber de quanto ela retirava realmente da bandejinha de vimes onde todas as outras pessoas tinham colocado o seu humilde contributo. De maneira que as pessoas suspeitavam - ou talvez não, talvez dissessem aquilo devido ao curioso da situação apenas - que ela talvez tirasse mais do que colocava. Quem sabe?
O meu olhar de criança fixava-se nas mãos da mulher escolhendo troco e eu não percebia. Se a bandejinha era para colocar dinheiro porque é que ela o retirava? Já no longo caminho de regresso a casa, a minha mãe explicava-nos a tal operação do destrocar.
Lembro-me sempre disto naquelas situações - que infelizmente não são poucas - em que por trocas e baldrocas a pessoa que supostamente está a dar, acaba ficando com mais do que aquilo que deu. Vejo alguém convocar toda a comunicação social para a entrega de um donativo e lá está, na minha memória, bem viva, a imagem da mulher que destrocava o dinheiro na bandejinha da igreja.
Durante o ofertório, alguém ia circulando entre os presentes com uma bandejinha de vimes e eu gostava de ouvir o tilintar das moedas por entre o côro das orações, quando alguém as atirava com mais força e de uma altura maior.
Quando a bandejinha chegava ao pé da tal senhora, em vez de atirar uma moeda de baixo valor, ela atirava uma maior, ou então uma nota de vinte escudos, daquelas que tinham a imagem do santo António de Lisboa, e começava a remexer em todo o dinheiro da bandeja retirando troco, de forma a que a sua oferenda fosse exactamente o valor que ela decidira.
Aquela operação demorava uma eternidade e ninguém se conseguia aperceber de quanto ela retirava realmente da bandejinha de vimes onde todas as outras pessoas tinham colocado o seu humilde contributo. De maneira que as pessoas suspeitavam - ou talvez não, talvez dissessem aquilo devido ao curioso da situação apenas - que ela talvez tirasse mais do que colocava. Quem sabe?
O meu olhar de criança fixava-se nas mãos da mulher escolhendo troco e eu não percebia. Se a bandejinha era para colocar dinheiro porque é que ela o retirava? Já no longo caminho de regresso a casa, a minha mãe explicava-nos a tal operação do destrocar.
Lembro-me sempre disto naquelas situações - que infelizmente não são poucas - em que por trocas e baldrocas a pessoa que supostamente está a dar, acaba ficando com mais do que aquilo que deu. Vejo alguém convocar toda a comunicação social para a entrega de um donativo e lá está, na minha memória, bem viva, a imagem da mulher que destrocava o dinheiro na bandejinha da igreja.
segunda-feira, outubro 11, 2010
uns peneirinhos
- "Estava uns peneirinhos!"
Esta desculpa foi usada para cancelar um compromisso, ou alterá-lo talvez, não tenho a certeza. Sei que os peneirinhos foram responsáveis pela mudança de planos de alguém que falava ao telefone junto à tabacaria, quando ali passei.
Deduzi que os peneirinhos eram nada mais nada menos do que a bezegaiazinha que caía nesse momento. Uma chuvinha muito fina, como se a chuva fosse peneirada algures no céu e à terra chegassem uns fiozinhos muito finos, tão finos que quase não molham.
Estamos no Outono e estas chuvinhas finas fazem parte da época. Nunca tinha ouvido serem chamadas de "peneirinhos", mas faz todo o sentido, então não!
Os peneirinhos deixam a paisagem lavada e brilhante. O Outono é bonito, escrevia eu no caderno de redacções, porque as folhas das árvores ficam com cores bonitas e caem no chão.
O frio ligeiro torna-se aconchegante porque apetece mais estar em casa com uma manta à volta dos joelhos e apetece mais tomar chá e até apetece bordar e apetece ler e parece que há mais tempo para falar com as pessoas. O tempo é uma ilusão, eu sei que o tempo é um fato à medida e por mim ele continuará a tornar-se maior no Outono, mesmo sendo os dias bem mais pequenos. Os peneirinhos têm de tornar-se em chuva a sério quando tiver de ser, é essa a lei da Natureza. Só espero que tudo aconteça com conta, peso e medida.
Esta desculpa foi usada para cancelar um compromisso, ou alterá-lo talvez, não tenho a certeza. Sei que os peneirinhos foram responsáveis pela mudança de planos de alguém que falava ao telefone junto à tabacaria, quando ali passei.
Deduzi que os peneirinhos eram nada mais nada menos do que a bezegaiazinha que caía nesse momento. Uma chuvinha muito fina, como se a chuva fosse peneirada algures no céu e à terra chegassem uns fiozinhos muito finos, tão finos que quase não molham.
Estamos no Outono e estas chuvinhas finas fazem parte da época. Nunca tinha ouvido serem chamadas de "peneirinhos", mas faz todo o sentido, então não!
Os peneirinhos deixam a paisagem lavada e brilhante. O Outono é bonito, escrevia eu no caderno de redacções, porque as folhas das árvores ficam com cores bonitas e caem no chão.
O frio ligeiro torna-se aconchegante porque apetece mais estar em casa com uma manta à volta dos joelhos e apetece mais tomar chá e até apetece bordar e apetece ler e parece que há mais tempo para falar com as pessoas. O tempo é uma ilusão, eu sei que o tempo é um fato à medida e por mim ele continuará a tornar-se maior no Outono, mesmo sendo os dias bem mais pequenos. Os peneirinhos têm de tornar-se em chuva a sério quando tiver de ser, é essa a lei da Natureza. Só espero que tudo aconteça com conta, peso e medida.
domingo, outubro 10, 2010
não dizer batatas duas vezes
- "Ele não diz batatas duas vezes. "
Este foi sem dúvida o dito mais engraçado que a minha memória registou nos últimos tempos.
É muito mais do que engraçado, chega a ser delicioso, e é utilizado para fazer referência às pessoas que tentam armar-se em mais do que aquilo que são.
A explicação é muito simples: uma pessoa que se quer fazer mais erudita do que na realidade é, tenta dizer batata em vez de semilha, partindo do pressuposto de que semilha é o termo do povo, usado pelas pessoas de menos instrução.
Mas quando as coisas são forjadas em vez de naturais, normalmente não correm bem. à segunda, sai semilha onde devia sair batata e entorna-se o caldo, melhor dizendo-se descobre-se o engano e o que sobressai é o ridículo da situação.
Nada como cada um ser aquilo que é. Mas quando a sociedade dá mais valor à aparência do que à essência, é muito difícil resistir à tentação de tentar parecer. É de tal forma difícil, que todos aqueles que dizem batata à primeira e semilha à segunda merecem a minha compreensão e solidariedade.
Este foi sem dúvida o dito mais engraçado que a minha memória registou nos últimos tempos.
É muito mais do que engraçado, chega a ser delicioso, e é utilizado para fazer referência às pessoas que tentam armar-se em mais do que aquilo que são.
A explicação é muito simples: uma pessoa que se quer fazer mais erudita do que na realidade é, tenta dizer batata em vez de semilha, partindo do pressuposto de que semilha é o termo do povo, usado pelas pessoas de menos instrução.
Mas quando as coisas são forjadas em vez de naturais, normalmente não correm bem. à segunda, sai semilha onde devia sair batata e entorna-se o caldo, melhor dizendo-se descobre-se o engano e o que sobressai é o ridículo da situação.
Nada como cada um ser aquilo que é. Mas quando a sociedade dá mais valor à aparência do que à essência, é muito difícil resistir à tentação de tentar parecer. É de tal forma difícil, que todos aqueles que dizem batata à primeira e semilha à segunda merecem a minha compreensão e solidariedade.