segunda-feira, outubro 17, 2005

O resmate, a hérnia descala, e as dores nas cadeiras e nas arcas

"Isto parece uma dor de resmate, passa de um lado para o outro." Ainda ontem ouvi esta expressão e ri-me para dentro, baixinho. Ri-me comigo mesma de contentamento por saber ainda em uso esta forma particular de os madeirenses se referirem ao reumatismo. "Eu também sinto algumas dores mas penso que não é resmate." E assim fiquei mais contente um bocadinho por ajudar a manter viva uma palavra que sempre ouvi da boca das pessoas mais idosas.
Eu penso que não tenho "resmate", mas hoje estou com uma dor nas "cadeiras". A minha avó, coitada, passava a vida a dizer que tinha uma dor nas "cadeiras". Lembro-me de vê-la de joelhos, no poço, a lavar roupa. Terminada a tarefa tinha dificuldade em se endireitar enquanto se lavantava. Punha as mãos na altura dos rins e dizia: "Ah Jesus, dói-me as cadeiras." É essa a dor que hoje sinto, mesmo sem ter de lavar roupa ajoelhada no chão, inclinada para o poço de cimento. A dor nas "arcas" é diferente. É mais para cima, segundo dizem.
Entre estas estranhas formas de identificar dores e partes do corpo, lembro-me também da "dor no espinhaço", que é a forma de dizer uma dor no peito. E da palavra "aduela" como sinónimo de costelas.
Uma das doenças que mais me intrigava em criança era a "hérnia descala". Nunca percebi o que era isso. Ouvia os adultos dizerem: "Coitada, ela tem uma hérnia descala" e nunca entendi. Até que, já adulta e depois de muitas radiografias feitas à "espinha", percebi. E foi então que me apercebi da adaptação feita do adjectivo ao feminino da palavra hérnia, acrescentando um "a" no final. É também normal que o "i" da palavra discal me soasse "e". Não é o único "i" que nós, madeirenses, transformamos num "e". As palavras ficam um pouco estranhas, lá isso é verdade. Mas são nossas e eu gosto delas assim.

Comments:
Tenho de confessar que começava a sentir saudades dos teus textos.
Admiro a forma como consegues fazer de algo tão simples,um texto com tanta magia e que me consegue "prender" ao ecrã.
Espero que a tua "dor na cadeira" passe depressa,e obrigada por tornares o meu vocabulário um pouco mais rico,pelo menos no que toca à linguagem da nossa pequena Terra =)
Beijinho**
 
Lilia, não sabe escrever poesia, mas sabe escrever prosa,e se nao estou em erro, e corriga-me. até ganhou um prémio de literatura.Tambem se nao estou em erro tem um livro que li de uma assentada(bolas nao me lembro o nome)Sabe aquilo que eu escrevo há quem diga que é poesia e há quem diga que não é, mas não podemos agradar a todos.Muito obrigada pela visita....
 
Olá gostei do modo como escreves e do blog tb.
 
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