segunda-feira, julho 27, 2009

uma zaravalhada

Surpreendi-me a mim mesma a utilizar esta palavra, como sinónimo de confusão. No entanto, ao dizer "zaravalhada", tinha em mente algo um pouco mais complicado do que uma simples confusão.
Depois de a ter utilizado, fiquei curiosa em relação a esta palavra que me acompanha desde a infância.
No dicionário de português encontro "zaragalhada", com o significado de alvoroço, confusão. Mas eu sempre ouvi e disse "zaravalhada", com "v" em lugar do "g".
Eis o que acontece com muitas palavras, que na realidade exisem na língua portuguesa, mas no falar popular sofreram pequenas alterações. Neste caso, aconteceu com uma simples letra, talvez por ser mais fácil de dizer com o "v".
É engraçada a palavra "zaravalhada" e é engraçada esta pequena mutação ao sabor popular. Aquilo que a palavra significa é que não tem tanta piada e hoje em dia é o que mais existe, parece que nada se consegue fazer sem ter de enfrentar "zaravalhadas".

sábado, julho 25, 2009

Remanxeando

- "Aquele hôme cá mesmo é assim." Fiquei atenta a ver o que viria a seguir e eis que surge um verbo interessante. "Podia-se ter caminhado de casa uma hora antes, mas ele foi remanxeando, foi remanxeando, ora isto, ora aquilo, e já caminhámos tarde."
Já tinha ouvido anteriormente o verbo "remanxear" utilizado num contexto semelhante: quando as pessoas demoram a sair de casa, porque têm sempre coisas para fazer exactamente naquela hora, se formos a ver nem se sabe bem o quê; andam para cá, andam para lá, lembram-se disto, lembram-se daquilo, já estão prontas, mas afinal não estão, é só mais isto e só mais aquilo e o tempo vai passando.
Para aqueles que têm o hábito de remanxear e para aqueles que esperam e desesperam, aqui fica mais esta pequena preciosidade da linguagem popular.

quarta-feira, julho 22, 2009

cada uma que parece uma dúzia

-"Tens cada uma que parece uma dúzia!"
Achei piada a esta forma de crítica, a esta censura que amplia uma asneira para uma dúzia, para lhe dar realce. Não me recordo que comportamento ou afirmação estaria em causa, mas registei a hipérbole. E lembro-me que apesar da repreensão evidente, havia um certo carinho que facilmente se transformaria em perdão.
E foi essa subtileza que me fez ficar com a impressão de que esta expressão não será usada para situações muito graves.
Há por aí cada uma que parece uma dúzia, lá isso há. Mas também há piores. Há cada uma que parece muito, muito mais do que uma dúzia.

domingo, julho 19, 2009

espelhos uns dos outros

"- Somos espelhos uns dos outros." Esta é uma das expressões preferidas da minha mãe, repetida sempre que alguém aponta um defeito noutra pessoa, ou a repreende.
Em vez de dizer à pessoa que aponta o defeito, que padece do mesmo mal, e que devia olhar primeiro para si mesmo, a minha mãe afirma, simplesmente: "- Somos espelhos uns dos outros."
Não precisa de explicar nada, nem de alongar a conversa porque todos percebem o efeito do espelho e entendem o significado profundo da expressão. Vemos nos outros aquilo que por vezes não conseguimos ver em nós mesmos. E acabamos todos assumindo o papel de espelhos.
Os outros reflectem os nossos próprios defeitos, medos, desejos, anseios. No fundo aquilo que vemos nos outros é o reflexo de nós mesmos. Projectamos nos outros o que desejamos e por vezes fabricamos pessoas que não existem, vemos pessoas à nossa medida onde afinal estão pessoas bem diferentes. E os outros fazem o mesmo connosco. Recordo-me do provérbio "quem é ladrão julga que os outros são", lá está outra vez o espelho a funcionar.
Onde encontrar o nosso verdadeiro eu neste mundo pejado de espelhos e de imagens retorcidas, retocadas, inventadas, imaginadas? E como encontrar o outro?

segunda-feira, julho 13, 2009

Eu não matei o padre

Era praticamente impossível encontrar lugar para estacionar na imensa confusão de gente que era a Feira do Gado no domingo à tarde. Mandaram-nos seguir por um caminho, e depois por outro, à procura de um parque. Quando finalmente lá chegámos, a minha mãe exclamou: "Eu não vou andar isto tudo a pé até lá abaixo. Eu não matei o padre."
Nunca tinha ouvido isto de matar o padre mas a minha mãe garantiu-me que é um dito velho na terra, que antigamente todas as pessoas diziam quando eram colocadas perante sacrifícios demasiado penosos. Parece que matar o padre era um crime muito maior do que matar uma pessoa normal, daí que a pena pelo homicídio do padre tivesse forçosamente de ser mais pesada.
Já que a minha mãe não tinha matado o padre, e ainda por cima estava com uma dor numa perna, não estacionei nesse parque distante e arriscámos nova vinda até junto da feira, onde conseguimos um bom lugar para estacionar.

quinta-feira, julho 09, 2009

uns pampolhões

" - Vais levar uns pampolhões". O termo foi-me sugerido, já por mais de uma vez, por colegas de trabalho, que também gostam e se interessam pelo falar popular.
Levar uns pampolhões significa apanhar uma sova valente. Talvez a palavra tenha algo de onomotopaico, de repente pareceu-me. Talvez seja só imaginação minha, mas há uma espécie de sonoridade, ao dizê-la, que sugere uma sova.
Aqui fica registado "levar uns pampolhões." Venham mais sugestões.

quarta-feira, julho 08, 2009

Uma bábeda

Tive de mandar calar várias vezes, de interromper risos, de cortar conversas. Uma excitação fora do normal dominava a aula e, reagindo a mais uma chamada de atenção da minha parte, eis que surge uma justificação: "Estamos a ser atacados por mosquitos."
A mim não me atacaram mas normalmente os mosquitos não me tocam, isso não quer dizer nada. Ouço a explicação com a minha habitual paciência e eis que uma das alunas acrescenta, reforçando a tese do ataque de mosquitos: "Já estou cheia de bábedas." Contribuiu assim para este blogue, pois ainda não me tinha lembrado de colocar aqui a palavra bábeda.
Esta é a forma popularmente usada para nos referirmos às erupções cutâneas normalmente resultantes das picadas de insectos, mosquitos ou outros. Desde que fique na pele uma marca avermelhada, de forma arredondada, com comichão ou dor, estamos perante uma bábeda.

terça-feira, julho 07, 2009

Barrejar

Está barrejando! Neste meu início de férias tem barrejado o dia todo. Olho incrédula para o tempo enevoado e para a chuva fininha e opto por não sair de casa.
"Barrejar" foi outro termo que aprendi com os meus alunos do Porto Moniz. "Barrejar" ou "dar uma barra" significa, segundo me explicaram, cair uma chuva fininha.
Início de férias com chuva não é agradável mas há coisas piores. Enquanto aguardo pacientemente pelo sol, aproveito para ir completando este blogue, que ultrapassou já os 600 textos.



quinta-feira, julho 02, 2009

uma pruna

As nuvens foram avançando e à hora do início do concerto temia-se chuva. Não choveu, porém. Mas ao longo da noite foi serenando e alguém virou-se para o lado e disse: " - Já sei que vou ficar doente por causa deste sereno miudinho." Lembrei-me de uma expressão que ouvi no Porto Moniz: "Está a dar uma pruna!"
Eu não conhecia a expressão, não sei se só se diz naquela freguesia do norte, mas segundo os meus alunos "está a dar uma pruna" significa exctamente "está a cair sereno". Vivendo e aprendendo, graças a Deus, senão este blog teria os dias contados.

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