quinta-feira, novembro 27, 2008

sentar-se em cima da mesa

Hoje voltaram a avisar-me: "Sentar-se em cima da mesa atrasa a vida". Eu assenti, conheço muito bem esse dito antigo, mas mantive-me no lugar onde gosto de me sentar, onde me dá mais jeito, de onde tenho uma boa perspectiva de toda a sala e onde me sinto confortável.
Atrasa a vida? Ora bem. Talvez se explique assim muita coisa. Talvez a chave de tantos mistérios esteja numa simples superstição.

sexta-feira, novembro 21, 2008

não quero que me doa nada

"- Daqui até lá, não quero que me doa nada". Digo-lhe com esta expressão popular que ainda há-de faltar muito tempo, mas ela não percebe. Por isso, continua a colocar hipóteses e a pedir-me ajuda para escolher os nomes dos cães e dos gatos que havemos de ter quando tivermos uma casa com jardim. De vez em quando, decide escolher outros nomes e eu entro na brincadeira, que para ela não é brincadeira nenhuma. Sugiro nomes, concordo com algumas sugestões, torço o nariz a outras. Vejo um intenso brilho nos olhos da minha menina e fico sem saber se faço bem ou se faço mal em alimentar assim um sonho que não sei se alguma vez se vai concretizar. Talvez por isso, por entre um sorriso melancólico, acrescento, em tom ligeiramente mais baixo: " - Daqui até lá não quero que me doa nada." Digo mas não digo. Digo com esperança que a expressão passe despercebida e que ela não me pergunte o que quer dizer, porque eu não gosto nem sou capaz de mentir.
Sim, filha, os nossos cães e os nossos gatos vão ser todos amigos, é claro que vão. E esses nomes são muito bonitos, é claro que são. E promete-me que vais ensiná-los a não me estragarem as flores.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Quebrar o jum

" - Já quebraste o jum?" A pergunta apanhou-me desprevenida porque esperava antes ouvir perguntar se já tinha tomado o pequeno-almoço. Mas perguntaram-me assim mesmo e deram-me a oportunidade de recuar no tempo e de acrescentar mais um texto a este blog.
Antes, o pequeno-almoço era o Quebrajum, abreviatura de Quebra-Jejum. O que se fazia de manhã era quebrar o jejum, com uma fatia de pão preto com manteiga e uma xícara de café de cevada.
" - Já quebraste o jum?" Não, eu ainda não tinha quebrado e jum e por isso fomos ao café. Mas na minha opinião, o que fizémos foi simplesmente tomar o pequeno-almoço. O quebrajum teria outro sabor, um sabor original e antigo, um sabor irrepetível.

domingo, novembro 16, 2008

Por amor em graça

Ouviu-se uma gargalhada geral. "Eu bem vi que isso não era por amor em graça", afirmou alguém, seguindo-se a continuação da geral gargalhada.
O meu riso contribuiu para a gargalhada geral e além do riso ganhei uma expressão para juntar ao blog: "Por amor em graça"!
Solicitamente, um colega ofereceu uma boleia e, de imediato, enquanto a pessoa se preparava ainda para balbuciar um obrigada, surpreendida pela súbita gentileza, pediu-lhe que entregasse não sei o quê não sei onde. Daí a garalhada de quem presenciou a cena e a expressão popular logo apontada.
"Por amor em graça" significa agir desinteressadamente, sem esperar ou exigir uma contrapartida e parece ser coisa cada vez mais rara neste mundo.

sexta-feira, novembro 14, 2008

A barca bela

Quem vem ver a barca bela
que se vai deitar ao mar
Nossa Senhora vai nela
E os anjinhos a remar

São Vicente é o piloto
Jesus Cristo, o general
Que linda bandeira leva
Bandeira de Portugal

Subam todos ao castelo
Suas bandeira no ar
A bandeira da mourisma
Vai pelo chão a arrastar


Estas quadras vinham no livro da terceira que era usado em 1952. O livro era do meu tio mais novo mas a minha mãe decorou os versos e foi assim que eles chegaram até mim, que os registo com admiração e a curiosidade de sempre.

terça-feira, novembro 11, 2008

Grampear

- "Acho que ele grampeou dinheiro...." A conversa referia-se a alguém que supostamente teria desviado dinheiro do local de trabalho. E aquela expressão foi acompanhada por um gesto em que os dedos da mão direita se moviam numa sequência perfeita, recolhendo-se depois para a palma da mão. Fiquei surpreendida com o uso do verbo "grampear", que nunca tinha ouvido e que julguei ser uma antiga e já muito esquecida palavra madeirense, utilizada como sinónimo de roubar.
Mas nada disso. O verbo "grampear" está no dicionário de português da Porto Editora e um dos seus significados é "furtar". Gosto de ser surpreendida assim pela minha própria língua; gosto de ser assim surpreendida por pessoas que, mesmo sendo quase analfabetas, têm este invejável conhecimento de vocabulário português.

domingo, novembro 09, 2008

O burro e o burriqueiro

" - Mijo de burro não enjoa a burriqueiro". Nunca tinha ouvido este provérbio e apresso-me a registá-lo. A metáfora é óbvia. Quem está perto tem mais dificuldade em julgar. A proximidade, sobretudo a emocional, inviabiliza os juízos imparciais. É mais fácil perdoarmos às pessoas de quem gostamos, é mais fácil esquecermos os defeitos dos nossos familiares, dos nossos amigos, dos nossos amores. Valorizamos aquilo de que gostamos, fechamos os olhos ao que não gostamos. É humano e vai ser sempre assim e ainda bem.
O mijo do burro não enjoa ao burriqueiro. Neste caso enjoar significa cheirar mal, é um termo muito usado na Madeira com este sentido. O povo nunca diz que algo cheira mal, diz que enjoa e também não diz a palavra urina, diz mijo.

terça-feira, novembro 04, 2008

Um banano!

"- É um banano!"
Estávamos numa loja de móveis, à procura de uma arca de madeira para substituir a "mala do dote" da minha mãe, cujo fundo se arrombou depois de 50 anos de uso.
Mostraram-nos uma e o meu pai exclamou: - "É um banano!"
Há bastante tempo que não ouvia esta expressão tão madeirense, utilizada como sinónimo de grande e aproveito para a partilhar com os leitores naquele que é o texto número 500 publicado neste blog.
O "Rabo do gato" já tem quinhentos posts. É caso para dizer: "está um banano!"
É altura também de voltar a agradecer todas as visitas e todos os comentários. Sem vós, leitores, este blog não seria nada.

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