segunda-feira, julho 30, 2007

Milho de Cabo Verde

Não parecia, mas era a tarde da Festa do Senhor, depois da procissão e da missa breve, destinada por tradição às pessoas que fazem o tapete. A banda tocava atrás da bandeira que era levada por todo o recinto, incluindo os cafés, para recolher dinheiro. Havia gente junto ao bazar e dentro do adro da igreja, mas o Largo estava praticamente vazio.
Com a nostalgia de antigamente, quando as pessoas estreavam vestidos novos feitos de propósito para o dia da festa e depois se acotovelavam no largo, enquanto os rapazes e as raparigas percorriam vezes sem conta a estrada à volta da igreja, tropeçando nos restos de flores do tapete e trocando olhares que talvez dessem em namoro, comprei um gelado à minha menina.
Com um simples gelado tentei recuperar um pouco da magia que a festa tinha antigamente. Também nos sentámos numa das bordas de cimento que ladeia o jardim e serve perfeitamente de banco, ao lado de algumas pessoas idosas. Deitei algum dinheiro na bandeira e sorri para uma vizinha que não via há uns tempos, enquanto a miuda se atrapalhava com o gelado que era muito grande e lhe caía pelos dedos e às vezes se escapava para o chão e ameaçava atingir-lhe as calças.
- "Esse gelado rende como milho de Cabo Verde!"
Quis saber a razão do ditado que, espontâneamente, a minha mãe encontrou para ilustrar a cena. Nunca o tinha ouvido. Mas a minha também não sabe qualquer explicação. Sabe apenas que tudo aquilo que rende, "rende como milho de Cabo Verde."

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