sexta-feira, janeiro 14, 2005

Para quem é, bacalhau basta!

A expressão saiu-me a propósito de uma conversa que agora não interessa para nada, mas só depois de a dizer é que me apercebi de como está desactualizada. "Para quem é, bacalhau basta!"
Antigamente, o bacalhau era um produto barato, acessível aos menos abonados. Lembro-me de haver bacalhau quase todos os dias, para o almoço ou até para o jantar ou para ceia. O bacalhau era cozido às postas, depois feitas em bocados mais pequenos dentro de um prato, e regado com azeite, vinagre, salsa, alho e cebola, escaldada para lhe tirar o forte. Ao almoço, metia-se o bacalhau com molho dentro de um quarto de pão, e toca a comê-lo, acompanhado com café preto, de cevada. Ao jantar, costumava ser o conduto para acompanhar o milho, ainda quente, frio, cortado aos bocados, ou frito. Pelo São Martinho, não podia faltar o bacalhau assado nas brasas.
Com o passar dos anos, porém, o bacalhau tornou-se quase num produto de luxo, acessível apenas às bolsas mais fartas, ou reservado para ocasiões especiais, talvez mais amiude em casas remediados, por um hábito adquirido do passado e por dar jeito ter sempre em casa, ainda que apenas um bocadinho desse conduto de fácil preparação, mesmo que do mais fininho.
Alterou-se o preço do bacalhau, mudaram os hábitos alimentares, mas a expressão continua a ser esta: "Para quem é, bacalhau basta!" E quer dizer, muito simplesmente, que para a pessoa em causa, mais não é preciso. Ou por a pessoa não merecer mais, ou por se contentar com pouco, ou apenas por ser o mais indicado à sua condição.
"Para quem é, bacalhau basta!" Hei-de continuar a usar a expressão genuína, tal como a aprendi. Neste caso, quando em causa está a sobrevivência de uma expressão da nossa cultura popular, bacalhau não basta.






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