segunda-feira, agosto 30, 2004

O corador e o arame da roupa


Sempre que coloco a roupa no pequeno estendal que tenho na pequena varanda do meu apartamento, lembro-me do corador e do arame da roupa que existiam na casa da minha infância.
A roupa era lavada no poço, à mão, com barras de sabão azul. Depois de uma primeira lavagem, dava-se uma camada de sabão na roupa branca e estendíamo-la no corador. O corador era um poio cheio de ervas verdes e limpas. A roupa ficava lá de um dia para o outro e não nos podíamos esquecer de a aguar quando começava a ficar seca.
Depois, a roupa era trazida novamente para o poço. Era preciso "enxógalhá-la" (enxaguar) na água limpa, para tirar-lhe o sabão, torcê-la e espalhá-la no arame da roupa. O sítio onde púnhamos a roupa a secar era simplesmente o "arame da roupa".
Não conhecíamos a palavra estendal, nem dizíamos estender a roupa. Dizíamos "espalhar a roupa no arame." O nosso arame da roupa ficava na beira do bardo, a todo o comprimento do corador. O que usávamos para prender a roupa eram "prisões da roupa", nunca ouvi a palavra "mola" neste contexto.
Para além do tratamento branqueador feito no corador, a roupa branca era muitas vezes mergulhada no anil. Ficava com um fresco tom azulado, em vez do amarelo que indicava uso e descuido.
Quem me dera um "arame da roupa", preso em estacas metidas no solo, a todo o comprimento de um poio verde e limpo, características essenciais num bom corador.

Comments:
Em miuda,na casa da minha avó tambem havia um arame da roupa,é interessante lembrarmos as coisas do antigamente,e ter consciencia de como tudo mudou,e nem sempre para melhor :(
 
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